Campos
Ó campos que cobrem a terra,
As vozes dos pássaros te saúdam.
As deusas que cantam em todas as belezas,
Também cantam em ti,
E seus delicados pés desnudos bebem do teu orvalho.
Na dança das estações,
Enquanto a flor descansa nas profundezas do solo,
A primavera aguarda sutil e mansa,
A hora do despertar.
Nas estranhas da terra morena e linda
Que vive a suspirar,
O poder da vida pulsa.
A primavera acorda, e é por ti, bem-vinda.
Quando o céu chora sobre tua superfície,
As flores brotam ternamente abraçadas.
Traze à luz, o bálsamo de tuas ervas sagradas,
Alimentas as criaturas que a ti acorrem,
Acolhes a correria lépida das lebres,
Escondes insetos que sobre teus cabelos verdes
Ora repousam, ora brincam e correm.
E as borboletas,
Na euforia que lhes traz a aurora,
Pincelam o pólen de flor em flor,
Como quem verseja numa página branca
A mais pura e sincera declaração de amor.
No verão abrasador,
Descem sobre ti os beijos do sol,
Mas o vento, sensível à tua ânsia febril,
Abre as asas em teu socorro.
E quando tua face enegrece,
A lua desce,
Colocando em traços vivos
Os vultos e as sombras peregrinas
Dos espíritos das gerações que te plantaram.
Há marcas de mãos,
Que escavaram chãos,
E que derramaram minúsculas sementes.
Ó campo, que a tantos encanta,
O poeta a ti confia seus íntimos segredos,
E seus sonhos ledos,
Criando metáforas que em versos canta.
E vê em teus olhos verdes, ó campina,
O mesmo olhar daquela menina,
Que lhe plantou na alma uma secreta dor.
E tu, abençoado campo da minha terra,
Que dos corações, ouve o clamor,
Oferece o veludo de teu leito
Para quem precisa aliviar o peito
Irrigando-te com lágrimas de amor!
(Lúcia Barcelos)
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